Posso ver-nos velhinhos
no alpendre da casa junto ao lago,
à volta,
a natureza verde e a esperança.
Sentados lado a lado,
olhamos o horizonte com a mesma emoção de outrora,
nada mudou.
Nem sequer a musica que toca agora.
Já faz frio aqui,
o barulho da lenha que arde,
o sabor do vinho que gostas,
e o brinde a cada fim de dia.
Todos os dias aquele momento sagrado,
a tua mão na minha mão,
abraçados debaixo da manta de pura lã.
Dizes-me um segredo ao ouvido,
há anos que me dizes o mesmo segredo,
e de todos as vezes , como se fosse a primeira.
Em ti amarei para sempre,
esse teu jeito sedutor e atrevido,
as palavras que encontras e me desafiam.
Olho-te,
e percebo que não tens tempo a passar,
beijo-te e e sinto como lá atrás
quando tudo começou,
intacto .
Leio-te,
como aprendi a ler a poesia,
num misto de emoção e prazer absoluto,
fazes amor com as frases e a tua natureza,
falas do mar e da lua
como se em tempos tivessem sido amantes.
Vejo-me,
a estrela e o barco que chega,
ancora no cais e ali fica,
até que parta de vez.
Merecíamos esta viagem juntos,
eu se pudesse,
pararia o tempo neste instante.
Adoro-te,
dizias, a cada novo anoitecer,
era amor,
mas tu não sabias a palavra.
Amo-te,
dizia eu a cada amanhecer,
era um Adoro-te,
a que juntava esta imensa felicidade.
Nani Carvalho
in : Fica"